quarta-feira, agosto 02, 2017

SIDA - BD didáctica editada em Cabo Verde





Tive conhecimento em meados de Julho, por mero acaso, que em Cabo Verde tinha sido editado um mini-álbum de BD, de carácter didáctico, dedicado ao problema da sida, sob a égide da Câmara Municipal da Praia.

Graças à minha amiga Inês Ramos, actualmente a residir em Cabo Verde, precisamente naquela cidade, obtive um exemplar da peça, feito quase inacessível para um português nascido e orgulhosamente residente em Lisboa, como é o caso deste blogger.

A edição, que teve a colaboração de estudantes do liceu Domingos Ramos (é verdade, em Cabo Verde mantiveram-se os liceus, viva!) que construiram os diálogos - em crioulo, obviamente - que serviram de base para um até agora desconhecido, mas talentoso, autor de BD, Aires Melo de seu nome, transformar numa excelente banda desenhada de carácter didáctico.

Nota: Ficam reproduzidas, no topo do poste, capa e seis pranchas, de um total de dez.

Ficha técnica
Título: Viver com VIH-SIDA é Possível! Com Estigma e Discriminação Não!
Autores: Aires Melo,desenhos; alunos do Liceu Domingos Ramos escreveram os diálogos
Formato A5 (148x210cm)
Capa em cartolina a cores
Ilustração da capa: Aires Melo
Conteúdo: 2 páginas de texto e 10 páginas de BD a cores
Edição feita com o apoio da Câmara Municipal da Praia
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AIRES MELO

Síntese autobiográfica


 



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 Entrevista com Aires Melo

1 - Aires Melo: A sua banda desenhada Viver com VIH-SIDA é Possível! Com estigma e Discriminação Não! demonstra um elevado nível gráfico e estilístico, tem excelente composição, domina bem os aspectos anatómicos dos corpos e a sua dinâmica, bem como a expressividade dos rostos.
Tudo isto tem naturalmente muito a ver com o seu talento natural, mas o curso Artes da Imagem, que fez cá em Portugal, no Instituto Politécnico de Castelo Branco, ajudou-o a aperfeiçoar-se?
Bem, eu participei do projecto com a arte e adaptação da história para banda desenhada. Fico surpreso e agradecido com a sua análise e crítica do meu trabalho! Não costumo realizar trabalhos de banda desenhada e por isso não costumo receber análises do meu trabalho nesses aspectos e principalmente de quem conhece tão bem a nona arte. Não lhe chamo de talento natural porque quanto mais experiência tenho como artista/ilustrador mais tenho a certeza de que para se atingir o patamar acima e continuar a subir é preciso muito trabalho e que esse trabalho seja constante. Eu não cheguei a finalizar o curso de Artes da Imagem porque o curso era mais focado em design gráfico e multimédia, mas com certeza que aplico o que aprendi ali enquanto frequentava as aulas nos meus trabalhos quando seja preciso.
2 - O tratamento da cor tem também muito boa qualidade. Deve-se apenas à sua sensibilidade, ou chegou a este patamar graças à observação de obras de banda desenhada, ou o já citado curso Artes da Imagem fê-lo evoluir igualmente nesse domínio?
Desde pequeno sempre fiz trabalhos a preto e branco ou monocromático, eu não tinha muito domínio das cores embora eu gostasse de criar novas cores com as cores primarias quando mexia com tintas. Mas eu sempre gostei de ver obras com cores, tanto em ilustrações, banda desenhada, filmes, animações, anúncios, em tudo quanto fosse imagem. O domínio que tenho hoje nesse aspecto deve-se muito à procura por aprender a utilizar as cores não só para criar o realístico, mas como atrair a atenção do observador para onde se quer, criar moods (clima) e tentar manipular a reacção do observador. Vejo e analiso muitos vídeos sobre as cores para diversos mídias, como para banda desenhada, ilustração, concept art, fotografia, filmes, design gráfico, etc, e essa procura e vontade de aprender ajudou-me bastante no que faço.
3 - Antes desta obra de carácter didáctico já tinha publicado alguma banda desenhada?
Nunca publiquei uma banda desenhada antes a não ser num fanzine (*) que fiz há muito tempo para homenagear o escritor de Conan, Robert E. Howard a convite do Daniel Maia que me ajudou bastante a realizar a minha parte do projecto.
4 - Estando a viver em Portugal, como é que lhe surgiu a oportunidade de realizar uma banda desenhada para ser editada em Cabo Verde?
Já não me lembro ao certo mas penso que foi a partir das redes sociais.
5 - Tendo nascido em Cabo Verde, onde suponho que viveu até à adolescência, conheceu lá alguma revista de BD portuguesa ou cabo-verdiana, ou de uma outra qualquer origem?

Em Cabo Verde não tínhamos muito por onde escolher, livros de banda desenhada eram raros e nós que gostávamos de BD só tínhamos acesso a revistinhas de super-heróis com edição brasileira, turma da Mónica, Lucky luke, Asterix, Tex, Tintin, banda desenhadas de histórias de índios e cowboys, e também ia ao centro cultural francês muitas vezes para ver as bandas desenhadas que tinham ali em francês que não percebo mas ia ali pela arte e pelos desenhos.
6 - Quais os autores portugueses que conhece? Há algum que aprecie especialmente?
Aprecio imenso o trabalho do Daniel Maia, e hoje em dia com as redes sociais já conheço mais, conheço e aprecio também o trabalho do Ricardo Drumond, Miguel Mendonça, Filipe Andrade, Manuel Morgado, Luis Figueiredo, Alberto Varanda, e muitos outros.
7 - No que se refere à BD estrangeira, quais os seus autores preferidos?
Não tenho lido muita banda desenhada ultimamente mas dos artistas gosto do Olivier Coipel, Skotie Young, Greg Capullo, Asley Wood, Paul Pope, Rafael Grampá, os gémeos Fabio Moon e Gabriel Bá, do trabalho super dinâmico e minucioso do Tradd Moore e outros mais. De sempre são Hal Foster, John Buscema, Will Eisner, Mike Mignola, Sergio Toppi, Alberto Breccia, John Romita Jr. Moebius, Albert Uderzo, Hergé, e etc, são tantos.
8 - Tem conhecimento de algum autor de BD cabo-verdiano?
Autores cabo-verdianos de banda desenhada conheço o Hegui Mendes embora já faz muito tempo que eu não tenho contacto com ele ou o seu trabalho posso afirmar que é o melhor que já vi das ilhas, tem o Mário Tavares que faz banda desenhada para o público infantil, o Rogerio Rocha, o Alberto Fortes e o meu grande amigo Malick Lima, existem mais mas não tanto.
9 - Uma mera curiosidade: mantém a sua nacionalidade cabo-verdiana, ou já tem dupla nacionalidade, luso-cabo-verdiana?
Só tenho a nacionalidade cabo-verdiana.

(*) Aires Melo refere-se ao fanzine da Tertúlia BD de Lisboa, o Tertúlia BDzine, onde colaborou no nº 107 de Novembro de 2006 com uma banda desenhada de sua autoria com o título "Conan - Crónicas de Um Bárbaro". 
Este episódio integrou-se num ciclo de homenagem a Robert E. Howard, que teve como editor Daniel Maia, sendo este próprio blogger o editor do fanzine que nem sequer conhecia o ilustrador/autor de BD Aires Melo, visto que o contacto com o jovem cabo-verdiano tinha sido tarefa do Maia.

Geraldes Lino 
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Espaços na internet de Aires Melo




https://www.youtube.com/channel/UCmLYhlfS_SIud6g0CtaDjPA
   

1 comentário:

aires disse...

Muito Obrigado pela entrevista Geraldes Lino e tambem por divulgar o meu trabalho. Grande abraço.